Quando o Yang virou Yin, e não voltou mais

A Fibrodisplasia Ossificante Progressiva (FOP) é uma estranha - e fortunadamente rara - doença genética caracterizada pela ossificação progressiva dos músculos, tendões e ligamentos. Clinicamente, esse processo de endurecimento gradativo do tecido conjuntivo leva à limitação da mobilidade osteoarticular, resultando em deformações, dores e à morte prematura. O paciente acaba assumindo uma postura rígida, ficando impossibilitado até de se sentar, fato que caracteriza uma forma avançada da desordem, passando a ser chamada de síndrome de “stone man”(homem de pedra em inglês). Neste ponto, o paciente evolui rapidamente ao óbito, devido à restrição respiratória.

Na imagem (foto site incrivel.club), vemos o esqueleto de uma pessoa com a síndrome e seu corpo literalmente coberto por irregulares capas ósseas.

Trago este tema para refletirmos sobre a moda atual de super enrijecer a musculatura como padrão estético desejável.

Recentemente, eu fiz um interessante curso de formação em GDS* - Cadeias Musculares e Articulares. Este método fisioterápico de abordagem biomecânica e comportamental, estuda e atua no que seria uma boa organização corporal, a partir do conceito de que a atitude postural e a forma do corpo derivam de uma multiplicidade de fatores, desde a genética até o psiquismo e o comportamento.

A proposta do GDS é a de uma leitura precisa da linguagem corporal a fim de determinar os meios de desfazer a eventual prisão muscular para que o corpo possa reencontrar a liberdade de movimentos e de expressão.

Neste curso, eu questionei uma das professoras, justamente sobre estes corpos com musculaturas hipertrofiadas ao máximo. Sua resposta foi de que todo excesso invariavelmente cobrará o seu preço, pois foge do equilíbrio natural. Quando queremos músculos duros como ossos, com o tempo, os ossos perdem sua função e ficam "moles" ou porosos, pela perda de massa óssea, numa alternância de papéis entre as diferentes estruturas corporais.

É o organismo respondendo às nossas escolhas, refletindo no físico os desequilíbrios já instalados no psiquismo. O que não tem nada a ver com a fibrodisplasia da foto. Numa não há escolha possível, pois não existe cura para a FOP que é genética. O tratamento visa minimizar os sintomas e evitar a progressão dessa condição. Já a outra é uma opção de estilo de vida e pode ter reflexos negativos sobre a saúde, principalmente sobre o gênero feminino por questões aparentemente de origem hormonal.

Os benefícios trazidos pela prática de exercícios para a saúde da mulher são inquestionáveis, mas quando se trata de esporte competitivo ou de alta performance, a complicação mais comum descrita pela literatura científica é a "tríade da atleta": distúrbio alimentar, amenorréia (ausência de menstruação) e osteoporose. A amenorréia atinge, nos Estados Unidos, até 66% das atletas de competição, e algumas de suas possíveis causas são: perda de peso, excesso de treino, quantidade insuficiente de gordura corporal, perda de estoques específicos de gordura corporal e dieta inadequada, podendo desenvolver osteoporose precoce. (Mantoanelli et all in REVISTA DE NUTRIÇÃO http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-52732002000300008&script=sci_abstract&tlng=pt). O que não isenta o gênero masculino dos efeitos perniciosos sobre os ossos ao longo prazo.

Toda esta discussão tem tudo a ver com a medicina chinesa que preconiza o equilíbrio e a concordância com as leis que regem a natureza. Por exemplo, o equilíbrio entre as polaridades Yin e Yang é determinado pela sua dinâmica, onde uma se transforma e é constantemente complementada pela outra. Não há ponto de parada. Ou seja, há sim, na morte.

Portanto, repense alguns ideais impostos pela mídia ou por alguns grupos sociais e só aceite produzir uma mudança em si se ela for para melhorar a qualidade de vida, a sua e a dos demais. ;)

(*) o nome GDS é patenteado e representa as iniciais da criadora do método nas décadas de 60 e 70, a osteopata belga Godelieve Denys Struyf (http://apgds.com.br/)