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Textos

Acupuntura
parte 1

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) engloba o ser humano como um todo, não apenas em seus aspectos físicos e psicológicos, mas agregando grande valor ao aspecto energético e, portanto, ao seu equilíbrio, não apenas em sua natureza interna, mas na relação com a natureza externa, igualmente relevante e inserida no processo de identificação e cura dos males que afligem o ser.

A tradicional prática de se inserir finas agulhas metálicas em pontos específicos do corpo físico para promover o reequilíbrio destas forças energéticas que regem e mantêm a vida se chama acupuntura e se associa a diversas outras técnicas da MTC, dentre as quais podemos citar algumas:

  • Acupressura - semelhante à acupuntura, mas que usa os dedos para massagear e não perfurar a pele. Também conhecida como Shiatsu ou Do-in.

  • Laserpuntura – semelhante à acupuntura, mas que usa feixes de laser terapêutico de baixa intensidade, sem perfurar ou machucar a pele, muito útil para os que tem medo de agulhas ou infecções.

  • Fitoterapia - uso de ervas medicinais, mas que, apesar do nome, não se restringe ao uso de vegetais, incluindo elementos de ordem mineral e animal nas composições.

  • Moxabustão - recurso de queima de ervas, principalmente a Artemisia vulgaris e a Artemisia sinensis, sobre ou em regiões próximas à pele em pontos específicos do corpo, como se fosse uma acupuntura térmica.

  • Ventosaterapia - recurso que produz um ambiente de vácuo sobre a pele em determinadas partes do corpo promovendo a sucção de elementos perniciosos para fora do organismo.

  • Sangria - pequenas perfurações superficiais na pele em pontos específicos do corpo para a regulação de determinadas funções fisiológicas pela eliminação de quantidades mínimas de sangue juntamente com elementos patológicos.

  • Dietoterapia - composição do cardápio a partir do diagnóstico constitucional do indivíduo, levando em conta as características Yin e Yang dos alimentos e os horários das refeições.

  • Práticas Físicas - como Tai Chi Chuan, Qi-gong e outras artes marciais e meditativas que estimulam e promovem uma melhor circulação da energia.

  • Massoterapia – como Tui Na.

Estas, entre outras técnicas, podem ser associadas de acordo com a necessidade específica de cada caso, não havendo uma generalização de condutas, pois cada indivíduo será diagnosticado em seu desequilíbrio específico e receberá a terapêutica que lhe for mais adequada

Yin e Yang

A característica principal do Tao é a natureza cíclica de seu movimento e sua mutação constante, significando que tudo no mundo ou nas situações humanas, apresenta padrões cíclicos de ida e vinda, de expansão e contração. Sempre que uma situação se desenvolve até atingir o seu ponto máximo, é compelida a se tornar o seu oposto, exatamente como nos movimentos da natureza, nas mudanças das estações ou mesmo na alternância entre sol e lua, dia e noite, etc.

Yin e Yang são as duas forças cósmicas que compõem o Tao, que integram tudo o que existe, dois polos que se complementam e se harmonizam, embora também possam gerar conflitos.

Este conceito oriental de organização da vida transcende a simples dualidade ou dicotomia própria da linear concepção de vida ocidental, que limitaria esta polaridade a um conceito de divisão maniqueísta na natureza e não de composição e fluxo como de fato é no pensamento chinês. Yin e Yang apresentam uma oposição relativa, pois um contém a semente do outro, mantendo entre si uma relação de interdependência, pois um não existe sem o outro, havendo uma constante transformação de um no outro, num consumo mútuo que deve resultar no mencionado equilíbrio dinâmico.

A vida como a concebemos depende destas forças Yin e Yang e depende igualmente dos cinco elementos (metal, madeira, água, fogo e terra) que fazem parte deste ciclo de transformações contínuas que geram e mantêm o equilíbrio numa sequência específica de geração e dominância entre eles. Se forem violados estes princípios de preservação da saúde, a doença se instalará. Por isso, as energias Yin e as Yang são consideradas os fundamentos da vida.  Se elas forem mantidas em estado de equilíbrio, o corpo será forte e o espírito saudável, se elas falharem em sua comunicação, a energia vital irá declinar e se esgotar.

A MTC baseia muito de sua teoria no conceito de busca e manutenção deste equilíbrio entre Yin e Yang no corpo humano, sendo qualquer doença encarada como um rompimento deste equilíbrio, entre outros fatores. A livre circulação da energia vital Qi pelo sistema de meridianos pode ser restabelecida pela inserção de agulhas em pontos específicos localizados estrategicamente ao longo destes meridianos.

 

Podemos confiar?
Acupuntura
parte 2

A acupuntura tem uma visão integradora entre corpo e mente e, assim como no taoísmo, sugere um caminho a ser seguido pelo indivíduo para preservar ou recuperar sua saúde, tornando o sujeito ativo diante dos seus desafios, o que lhe fortalece a alma e psique além da saúde do corpo físico. Segundo Hipócrates, fundador da medicina ocidental há vinte séculos, “O médico pode tratar de uma doença, porém só a natureza pode curar” .

Como prática, pode ser resumidamente conceituada como a inserção de finas agulhas metálicas em pontos específicos, chamados de acupontos, que fazem parte de uma intrincada rede de meridianos por onde circula a energia vital, que podem atuar local, distal ou sistemicamente.  A estimulação de um determinado ponto possui indicações específicas, mas a estimulação simultânea de dois ou mais acupontos pode ampliar suas indicações, promovendo uma sinergia que produz resultados diversos da sua simples soma.

Pode ser dividida entre acupuntura sistêmica, que utiliza agulhas por todo o corpo, ou auriculoacupuntura, que utiliza apenas o pavilhão auricular como área terapêutica com a colocação de agulhas, sementes, esferas ou magnetos.

A acupuntura sistêmica pode ainda se valer de recursos complementares como a disposição de correntes elétricas através das agulhas (eletroacupuntura) ou do uso de calor por meio de pequenos chumaços de lã de artemísia queimados no topo das agulhas, levando assim mais calor para o ponto em questão (acupuntura térmica).

 

 

 

 

Um questionamento comum acerca da eficácia da acupuntura se assenta sobre os aspectos científicos deste método terapêutico. Por exemplo, quando se pesquisa um determinado antibiótico numa placa de petri colonizada pelas bactérias patológicas em questão, o que se espera é ver na própria placa a ação direta da substância sobre as bactérias. Mas ao se colocarem as agulhas de acupuntura sobre estas mesmas bactérias colonizadas na placa de petri nada ocorrerá, pois sua ação não se dirige aos agentes patogênicos, à doença, mas aos agentes de saúde, ao próprio indivíduo, o que fica muito difícil de quantificar em condições laboratoriais acadêmicas que demandam métodos padronizados e replicabilidade de resultados. As agulhas ativam a capacidade de autocura do indivíduo o que não pode ser medido objetivamente pelos métodos científicos tradicionais.

Há que se fazer uma distinção entre enfermidade e doença. Justamente uma das limitações da medicina ocidental moderna reside no fato de reduzir enfermidades a doenças, desviando sua atenção do paciente como pessoa. Enquanto a enfermidade é uma condição do ser humano total, a doença seria a condição de apenas uma ou mais partes deste corpo, assim, ao invés de se tratar o doente, trata-se da doença, perdendo de vista a importante distinção entre estes dois conceitos.

Uma pessoa pode estar enferma e não ter nenhuma doença ou distúrbio fisiológico perceptível, o que a medicina ocidental tem maior dificuldade em abordar. Mas na presença de doenças de maior gravidade é comprovada a eficácia da medicina ocidental por intervir rapidamente, promovendo a sobrevivência daquele que se encontra na iminência da morte.

Então, a enfermidade física é considerada pela medicina chinesa uma das numerosas manifestações possíveis de um desequilíbrio básico do organismo. O que quer dizer que pode haver uma interferência nos processos de autocura espontânea do organismo quando da simples supressão dos sintomas pela via medicamentosa. Ou seja, embora a medicina ocidental tenha contribuído enormemente para a eliminação e controle de diversas doenças e seja soberba ao lidar com emergências, isto pode não necessariamente restituir a saúde, pois outros elementos estão em jogo na intrincada rede que a compõe.

 

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