Ando meio depressivo
Muito se especula sobre as possíveis causas do aumento galopante de casos de depressão, principalmente nas populações das grandes cidades, o que nos leva a pensar em fatores deflagradores externos como estresse, correria, cobranças, frustração, falta de tempo, poluição, e por aí vai.
Não nego a enorme influência de todos estes fatores, mas, hoje, te convido a pensar sobre os deflagradores internos deste mal.
A primeira coisa que provavelmente veio à sua mente se relaciona aos níveis séricos de serotonina.
E você está certo! A relação entre este neurotransmissor e a depressão é direta. No entanto, o detalhe que faz toda a diferença é que a grande maioria da serotonina que circula em nosso organismo (cerca de 90%) é produzida pelo intestino.
Sim, o intestino não é apenas um tubo de esgoto que drena para fora do corpo aquilo que já nos deu prazer ao entrar, mas que agora precisa sair. Muita coisa interessante se passa por dentro deste órgão fascinante que, além de absorver água e elementos nutricionais dos alimentos, abriga colônias imensas de micro-organismos (coisa da ordem de trilhões de bactérias), e é responsável pela produção de grande número de substâncias vitais, dentre elas hormônios, neurotransmissores e até fatores imunológicos, regulando o humor e a predisposição ao um enorme número de patologias que não se restringem ao aparelho digestório.
A produção desta serotonina (relacionada às sensações de bem-estar e determinante do estado de humor) no intestino, depende do seu pleno funcionamento (bactérias positivas em proporção dominante sobre as negativas na microbiota intestinal), e do fluxo constante (não constipado nem inflamado), o que decorre 100% daquilo que comemos e como comemos.
Voltando à questão do início em que reportamos dois detalhes importantes: o aumento do número de casos e o fato deste aumento predominar nas grandes aglomerações humanas.
Produzir alimentos para grandes populações é um desafio. Fazer com que a cadeia de produção seja efetiva e permita que os alimentos cheguem à prateleira do mercado e à dispensa das casas com vida útil é um problema que foi resolvido pela ciência com a utilização de métodos de assepsia, ou seja, matam-se os micro-organismos presentes nos alimentos por meio de processos como o da pasteurização ou pela adição de preservantes químicos como bactericidas.
Se estas substâncias impedem a fermentação pelos micro-organismos nos alimentos na prateleira, também terão a mesma ação dentro dos nossos intestinos, prejudicando o processo de digestão e absorção dos elementos nutritivos destes alimentos. Além da desnutrição, da produção de gases, do desconforto abdominal e da irregularidade na defecação, teremos impacto direto na produção de hormônios, neurotransmissores e imunidade, o que significa dizer da saúde e bem-estar geral.
Portanto, alimentos industrializados, cheios de conservantes e aditivos, altamente esterilizados, acidificados, ricos em sabor, mas pobres em fibras e vida microbiológica, devem ser evitados de rotina, permanecendo como pequenas indulgências em regime de exceção.
Precisamos manter a ingesta de fibras e bactérias do bem. As primeiras se obtém pelo consumo amplo de frutas, verduras, legumes e cereais integrais, de preferência orgânicos e bem mastigados. As bactérias do bem obtemos pelo consumo de fermentados não pasteurizados como queijos e coalhada fresca, pasta de missô, pães de fermentação natural, frustas secas.
Com o intestino funcionando bem, o sono fica mais tranquilo, a imunidade fica mais efetiva e o mal-humor vai embora junto com as fezes na descarga da manhã.
Este não é o único fator interno na gênese da depressão, mas seguramente é um que está ao seu alcance para monitorar e produzir mudanças acessíveis.
Não deixe de fazer exames de rotina, visitar o médico regularmente, se consultar com um bom nutricionista e fazer sessões de acupuntura para ajustar o que perdeu o equilíbrio.