Doença ou Doente?
Nas palavras de John O'Connor e Dan Bensky no livro ACUPUNTURA - UM TEXTO COMPREENSÍVEL temos: "Pode-se dizer que a doença é descrita mais em função da resposta do corpo do que em função de uma doença autônoma. Deste modo, duas pessoas podem ser acometidas pela mesma doença (pelo conceito ocidental) ao mesmo tempo, mas, por causa das diferenças existentes no seu ambiente e constituição, elas podem apresentar padrões diferentes da doença."
Vamos tentar entender o que isto quer dizer.
A medicina ocidental, por meio do método científico de desenvolvimento da sua teoria e prática, foi cada vez mais se especializando e, portanto, fragmentando não apenas a si mesma como ciência, mas também ao corpo humano, seu objeto de estudo e intervenção. Neste modelo, há uma valorização dos sintomas e suas síndromes, para o diagnóstico da patologia e não do indivíduo, resultando numa romaria entre diferentes especialidades para se cuidar de diferentes problemas de saúde.
Na medicina oriental, os sintomas possuem menor importância na elaboração do diagnóstico e do tratamento. O indivíduo é examinado no todo, pelas condições que apresenta para reagir ao mal que o acomete no momento. Para isto, o terapeuta lança mão de recursos de diagnóstico in vivo, no momento da consulta, pela palpação do pulso e de pontos de alarme distribuídos pelo corpo e pelo aspecto da língua, da face e do corpo em geral.
Isto explica porque tantos imigrantes chineses, japoneses e coreanos conseguiram estabelecer com sucesso sua prática de acupuntura e de outras terapias orientais, sem falar ou entender o idioma do país para onde se direcionaram. O diagnóstico prescinde daquilo que o doente pode ter a falar e depende 100% daquilo que o corpo tem a falar.
A relação da medicina oriental com o corpo é muito mais estreita e nela basicamente não se fala em doenças como gastrite, alergia ou constipação. Se fala em desequilíbrio de sistemas internos e de invasão de patógenos externos. Se fala, por exemplo, em aumento do Yang do fígado ou deficiência do Yin do Rim, de estagnação de energia, ou de vento interno. Termos que para os ocidentais soam herméticos ou até jocosos, uma vez que a linguagem oriental é iconográfica, sendo cada palavra representada por objetos ou situações. Por exemplo, a palavra SAÍDA em chinês é representada por um ideograma com a forma de uma porta.
Assim, no diagnóstico oriental podemos ter uma situação em que o Qi do fígado não está em equilíbrio e o Yang sobressai, então o fogo produzido por ele irá gerar um vento interno que pode levar a tontura, desmaio e até a ataques epiléticos. Nestes casos, o tratamento por acupuntura será focado no meridiano do fígado, em pontos que podem estar localizados nos membros inferiores e não na cabeça.
E vai funcionar. Se bem diagnosticada e bem tratada, a condição de desequilíbrio dará lugar a um novo equilíbrio, restabelecido pela fomentação das forças naturais do próprio doente.
O que não quer dizer que uma ciência é melhor do que outra. De forma alguma! Ambas são importantes, todas têm o seu espaço e as pessoas precisam do máximo possível de recursos e de pessoas competentes disposta a ajudá-las a resolver seus desafios na área da saúde.